Publicados no Jornal i
Fábula: diálogo de um católico com um cristão em 1932
Fab[ulas] [para as] N[ações] J[ovens]
Passeavam um dia junctos um christão e um catholico.
Disse de repente o catholico para o seu inimigo, “Meu amigo, creio que estamos de accordo”. E o outro não disse nada, porque todas as nações que fallaram concordaram em que o silencio é de ouro.E então o catholico começou:– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja é aquella que se firma no rochedo de Pedro?”
E o outro respondeu, “Não concordo”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja é aquella que se firma na mais antiga tradição?”E o outro respondeu, “Não, não concordo”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja é aquella que reune os mysticos e os soldados, os ascetas e os grandes peccadores?”E o outro respondeu, “Não posso concordar”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja é a Egreja de Christo?E o outro respondeu, “Sim, talvez, não sei se concordo”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja é a que quere o bem da humanidade?E o outro respondeu, “Com reservas, concordo”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja é a que fôr a verdadeira Egreja?”E o outro respondeu, “É claro que concordo”.
– Se estamos, pois, de accordo”, disse o catholico, “vamos jantar junctos”.Assim fizeram, e como o catholico não ficasse offendido e doesse ao christão a possibilidade de o haver offendido, foi o catholico que comeu com vontade e o christão que por sua vontade pagou a conta.
#1Inéditos
edição nº 150 do jornal i – 28 Outubro 2009
Ilustração: Inês Sena © Guimarães Editores