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Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei. Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos (Fernando Pessoa - Poemas Inconjuntos)

Andava há uns dias para escolher mais um livro a ler. Peguei em 2, que após a leitura das primeiras páginas depressa abandonei.

Encontrei este, perdido no meio de tantos outros que estão na estante (e eu não li).

As criticas são boas, ontem li uns 3 capítulos e parece promissor. 

 

 

 

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Para inicio do objectivo "1livropormês" fui à estante lá de casa e procurei um livro de um autor que já tivesse lido e gostado. Também queria fugir um pouco aos temas maçónicos e religiosos, que tinham pautado as minhas últimas leituras.

Escolhi "A Tábua de Flandres", do Arturo Pérez-Reverte, um dos primeiros títulos deste autor (La tabla de Flandes, de 1990).

Dele já li A Rainha do Sul" (La Reina del Sur (2002)) e "O Cemitério dos Barcos sem Nome" (La carta esférica (2000)), dos quais gostei bastante.

 

Como primeira análise, parece-me um livro um pouco mais ligeiro do que os que li anteriormente, o enredo é interessante mas não me está a "prender". No entanto, lê-se bem e não deixa de ter alguns pontos de interesse (aprende-se sempre algo com um livro).

 

 

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#3
http://www.ionline.pt/conteudo/31448-exclusivo-i-fernando-pessoa-olhem-este-barbacas

A varina e a lógica

Quando as quatro varinas corriam em losango pela rua e ao lado, a do avanço, loura e com olhos, deu com o instinto de troça contra o homem moço de barbas de velho que vinha tendo ar de sabio pelo passeio ás avessas.

E parou, e, instinctivamente, os transeuntes pararam.

E ella largou a mão de alto, de sobre a canastra, apontou para o homem e disse:

– Olhem para este barbaças.

Toda a paisagem humana riu junta.

O homem moço de barbas velhas parou á beira do passeio como de um caes, olhou abstractamente a varina, e disse num tom triste:

– Bem se vê que foi tua avó que te pariu!

A varina estacou mais, corou, emmudeceu com uns poucos de silencios, e em torno rebentou, depois de um pouco, uma gargalhada do publico já trespassado. Não se distinguia se a gargalhada era da resposta, se da confusão muda da varina loura.

O homem moço passou, levou as barbas de velho escondidas pelas costas viradas ao publico que o applaudira.

Depois, num café, contou o episodio a um amigo. O amigo ouviu, riu, e depois não pôde rir. Por fim fez um gesto em que a face era envergonhada a medo.

 Você desculpe. Eu serei talvez estupido, ou estarei estupido hoje.Mas o que quere isso dizer?

– Não quere dizer nada, respondeu o outro. E ahi é que está o golpe.

Moral: Transtornar é vencer.

edição nº 157 do jornal i – 05 Novembro 2009

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Publicados no Jornal i

Fábula: diálogo de um católico com um cristão em 1932


  Fab[ulas] [para as] N[ações] J[ovens]

Passeavam um dia junctos um christão e um catholico.
Disse de repente o catholico para o seu inimigo, “Meu amigo, creio que estamos de accordo”. E o outro não disse nada, porque todas as nações que fallaram concordaram em que o silencio é de ouro.

E então o catholico começou:
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja é aquella que se firma no rochedo de Pedro?”
E o outro respondeu, “Não concordo”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja é aquella que se firma na mais antiga tradição?”

E o outro respondeu, “Não, não concordo”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja é aquella que reune os mysticos e os soldados, os ascetas e os grandes peccadores?”

E o outro respondeu, “Não posso concordar”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja é a Egreja de Christo?

E o outro respondeu, “Sim, talvez, não sei se concordo”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja é a que quere o bem da humanidade?

E o outro respondeu, “Com reservas, concordo”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja é a que fôr a verdadeira Egreja?”

E o outro respondeu, “É claro que concordo”.
– Se estamos, pois, de accordo”, disse o catholico, “vamos jantar junctos”.

Assim fizeram, e como o catholico não ficasse offendido e doesse ao christão a possibilidade de o haver offendido, foi o catholico que comeu com vontade e o christão que por sua vontade pagou a conta.

#1Inéditos
edição nº 150 do jornal i – 28 Outubro 2009
Ilustração: Inês Sena © Guimarães Editores

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